quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Trabalho com os Suecos.

Texto recebido de um amigo, escrito por um brasileiro que vive na Europa.Já vai para 18 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca. Trabalharcom eles é uma convivência,no mínimo, interessante. Qualquer projeto aqui demora 2 anos para seconcretizar, mesmo que a idéiaseja brilhante e simples. É regra. Então, nos processos globais, nós(brasileiros, americanos, australianos,asiáticos ) ficamos aflitos por resultados imediatos, uma ansiedadegeneralizada. Porém, nosso senso deurgência não surte qualquer efeito neste prazo.Os suecos discutem, discutem, fazem "n" reuniões, ponderações. E trabalhamnum esquema bem mais"slow down". O pior é constatar que, no final, acaba sempre dando certo notempo deles com a maturidadeda tecnologia e da necessidade: bem pouco se perde aqui.E vejo assim:1. O país é do tamanho de São Paulo;2. O país tem 2 milhões de habitantes;3. Sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (compare comCuritiba, que tem 2 milhões);4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux, ABB,Nokia, Nobel Biocare... Nada mal, não?5. Para ter uma idéia, a Volvo fabrica os motores propulsores para osfoguetes da NASA.Digo para os demais nestes nossos grupos globais: os suecos podem estarerrados, mas são eles que pagam nossos salários.Entretanto, vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, quetenha mais cultura coletiva do que eles.Vou contar para vocês uma breve só para dar noção.A primeira vez que fui para lá, em 90, um dos colegas suecos me pegava nohotel toda manhã. Era setembro, frio, nevasca. Chegávamos cedo na Volvo eele estacionava o carro bem longe da porta de entrada (são 2.000funcionários de carro). No primeiro dia não disse nada, no segundo, noterceiro... Depois, com um pouco mais de intimidade, numa manhã, perguntei:- Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos cedo, oestacionamento vazio e você deixa o carro lá no final.Ele me respondeu simples assim:- É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar. Quem chegar maistarde já vai estar atrasado, melhor que fique mais perto da porta. Você nãoacha? "Olha a minha cara! Ainda bem que tive esta na primeira. Deu para reverbastante os meus conceitos.Há um grande movimento na Europa hoje, chamado Slow Food. A Slow FoodInternational Association - cujo símbolo é um caracol, tem sua base naItália (o site, é muito interessante. Veja-o!). O que o movimento Slow Foodprega é que as pessoas devem comer e beber devagar,saboreando os alimentos,"curtindo" seu preparo, no convívio com a família, com amigos, sem pressa ecom qualidade.A idéia é a de se contrapor ao espírito do Fast Food e o que ele representacomo estilo de vida em que o americano endeusificou.A surpresa, porém, é que esse movimento do Slow Food está servindo de basepara um movimento mais amplo chamado Slow Europe como salientou a revistaBusiness Week numa edição européia.A base de tudo está no questionamento da "pressa" e da "loucura" geradapela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraposição àqualidade de vida ou à "qualidade do ser".Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menoshoras( 35 horas por semana ) são mais produtivos que seus colegasamericanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíramuma semana de 28,8 horas de trabalho, viram sua produtividade crescer nadamenos que 20%.Essa chamada "slow atitude" está chamando a atenção até dos americanos,apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it now" (faça já). Portanto, essa"atitude sem-pressa" não significa fazer menos, nem ter menorprodutividade.Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e"produtividade" com maior perfeição, atenção aos detalhes e com menos"stress".Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, dolazer, das pequenas comunidades, do "local", presente e concreto emcontraposição ao "global" - indefinido e anônimo. Significa a retomada dosvalores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do cotidiano, dasimplicidade de viver e conviver e até da religião e da fé.Significa um ambiente de trabalho menos coercitivo, mais alegre, mais"leve" e, portanto, mais produtivo onde seres humanos, felizes, fazem comprazer, o que sabem fazer de melhor.Gostaria de que você pensasse um pouco sobre isso... Será que os velhosditados "Devagar se vai ao longe" ou ainda "A pressa é inimiga daperfeição" não merecem novamente nossa atenção nestes tempos de desenfreadaloucura?Será que nossas empresas não deveriam também pensar em programas sérios de"qualidade sem-pressa" até para aumentar a produtividade e qualidade denossos produtos e serviços sem a necessária perda da "qualidade do ser"? Nofilme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível, em que um personagemcego, vivido por Al Pacino, tira uma moça para dançar e ela responde:- Não posso, porque meu noivo vai chegar em poucos minutos.- "Mas em um momento se vive uma vida" - responde ele, conduzindo-a numpasso de tango. E esta pequena cena é o momento mais bonito do filme.Algumas pessoas vivem correndo atrás do tempo, mas parece que só alcançamquando morrem enfartados, ou algo assim. Para outros, o tempo demora apassar; ficam ansiosos com o futuro e se esquecem de viver o presente, queé o único tempo que existe.Tempo todo mundo tem, por igual! Ninguém tem mais nem menos que 24 horaspor dia. A diferença é o que cada um faz do seu tempo. Precisamos saberaproveitar cada momento, porque, como disse: John Lennon ,"A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro"...Parabéns por ter lido até o final! Muitos não lerão esta mensagem até ofinal, porque não podem "perder" o seu tempo neste mundo globalizado. Pensee reflita, até que ponto vale a pena deixar de curtir sua família. De ficarcom a pessoa amada, ir pescar no fim de semana ou outras coisas...

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