quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fale bem fale certo!!!

Fale em alto e bom tom
Aprenda a usar a voz com critério e adote algumas precauções para não perder esse instrumento de trabalho


Luciane, dando aula de música: microfone e água para evitar problemas
1- LOCALIZAÇÃO
As pregas vocais estão posicionadas horizontalmente no interior da laringe, ao lado da traquéia, ambas na região do pescoço
2-A RESPIRAÇÃO
Formadas por músculos e mucosa, as pregas permanecem abertas para a passagem do ar durante a respiração
3-A VOZ
Quando se fala, o ar vindo dos pulmões faz as pregas vibrarem, formando a voz. Ela se amplifica nas cavidades do pescoço, no nariz e na boca, que formam a caixa de ressonância
4-FORMAÇÃO DE NÓDULOSO
Mau uso da voz provoca atrito entre as pregas e a formação de nódulos — acúmulo de tecido produzido pelo próprio organismo para defender o local lesado

Manter a classe atenta nunca foi tarefa fácil. Para atingir esse objetivo, muitos abusam da garganta. Luciane Nagy Cação Nogueira Ribeiro, professora de Música de Educação Infantil e do Ensino Fundamental desde 1993, tinha uma dificuldade extra: alguns alunos confundiam musicalização com bagunça. Os piores eram sempre os pequenos, na hora da bandinha: ela precisava berrar para reger as crianças ao som de triângulos, reco-recos e tambores. O resultado de tanto esforço não tardou a aparecer: dores de garganta freqüentes. Com o passar dos anos, Luciane se acostumou a começar a semana falando bem, chegar na quarta-feira com a voz cansada e terminar a sexta completamente rouca. "Meu medo era ficar afônica de repente", conta.
Falar muito — e alto — para impor a autoridade é um vício que pode causar problemas graves. "A voz é o mais importante instrumento de trabalho do professor. Apesar disso, ninguém ensina a usá-la profissionalmente", observa o otorrinolaringologista Arnaldo Guilherme, professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo. Disfunções vocais são comuns em todos os que precisam se expressar em público — e estão entre as principais causas de afastamento de docentes. Pesquisa feita no ano passado pelo Sindicato dos Estabelecimentos do Ensino Particular do Distrito Federal concluiu que 53% dos educadores tinham dor ou ardor na garganta, bem como rouquidão várias vezes por mês.

Ajuda especializada
Os primeiros sinais de que algo não vai bem com o aparelho fonador são a rouquidão, a falta de vontade de falar (mesmo em horas de lazer), dores e ardor na região da garganta, além de tensão nos ombros e pescoço, excesso de secreção (catarro) e cansaço. Quando esses sintomas persistem por mais de quinze dias ou começam a aparecer com regularidade, é necessário procurar um especialista. Fique atento, pois o problema pode ser mais grave do que uma simples irritação ou mesmo uma inflamação.
Luciane só se preocupou em procurar um médico depois que ficou afônica em sala de aula. Um exame chamado laringoscopia detectou nódulos nas pregas vocais, a conseqüência mais freqüente do abuso. As fendas — flacidez nos músculos vocais — também ocorrem, mas em menor incidência. "O descanso por alguns dias soluciona uma rouquidão leve. Mas não é suficiente para quem fala muito, todos os dias, em ambientes amplos e para um público barulhento", afirma Guilherme.

Tratamento e prevenção
Tanto o tratamento dos nódulos e fendas quanto a prevenção de distúrbios vocais são feitos com exercícios, higiene vocal e mudança de hábitos alimentares e físicos (veja o infográfico acima). Trabalhar a respiração e a vibração dos músculos envolvidos na fala (pregas vocais, língua, lábios, diafragma) é tarefa para ser realizada diariamente. Uma boa sugestão é fazer isso durante 10 ou 15 minutos, pela manhã, para aquecer a voz. Com isso, ela ressoa melhor nas cavidades da cabeça e do pescoço e fica mais intensa — em outras palavras, você não precisa gritar tanto para ser ouvido.
No final do dia, é muito importante fazer o desaquecimento, soltando os músculos e deixando-os prontos para o descanso. Procure um fonoaudiólogo para determinar os exercícios certos para cada caso e a melhor maneira de executá-los. Malfeitos, eles podem levar ao agravamento dos sintomas, ou seja, mais problemas.
A hidratação vocal, prática tão simples, também é uma maneira de evitar distúrbios graves. As fonoaudiólogas Lilian Ferro, Roberta Navarrete e Sara Rocha, de Campo Grande, constataram que 77,8% dos professores da Universidade Católica Dom Bosco, na capital sul-mato-grossense, tiveram melhora na voz depois de ingerir um copo d’água enquanto davam aulas ou nos intervalos. E isso porque o estudo durou apenas dois meses. "O líquido dilui a secreção natural da garganta e elimina a poeira e o pó de giz que podem se acumular na laringe, diminuindo a necessidade de pigarrear", explica Roberta.

Algumas mudanças na rotina e pequenos cuidados cotidianos ajudam a prevenir distúrbios graves
Evite:Usar a voz para competir com o barulho interno ou externo da classe;
Vestir roupas ou acessórios apertados na região do pescoço (gola, colar, gargantilha, lenço, gravata) e na cintura (calça, cinto, cinta elástica, faixas), pois eles dificultam os movimentos do diafragma;
Comer alimentos gordurosos ou muito temperados, que aumentam a produção e a espessura da secreção, dificultando a fala e a deglutição;
Fumar ou ingerir bebidas alcoólicas;
Pigarrear ou tossir, hábitos que irritam as pregas vocais;
Expor-se a mudanças bruscas de temperatura;
Borrifar sprays ou chupar pastilhas, dropes, gengibre ou cravo. O efeito anestésico alivia os sintomas, mas as pregas vocais continuam machucadas;
Ter contato com substâncias que desencadeiam crises de alergia, bronquite, asma, rinite ou faringite.
Habitue-se:Tomar água em temperatura ambiente durante as aulas, sempre em pequenos goles;
Repousar a voz entre as aulas;
Apagar o quadro-negro com pano úmido, em vez de apagador, para evitar a inalação da poeira do giz;
Comer maçã regularmente. A fruta auxilia na limpeza da boca e da faringe;
Tomar diariamente sucos cítricos, como os de laranja e limão. Eles ajudam na absorção do excesso de catarro;
Ter postura reta e relaxada, principalmente na região do ombro e da cabeça, enquanto estiver falando;
Espreguiçar-se e bocejar várias vezes ao dia. Esses movimentos relaxam a musculatura do corpo e da garganta;
Fazer exercícios regularmente e cuidar da saúde como um todo, já que qualquer problema no corpo pode influenciar na produção da voz.

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