Não
há maior crime do que alguém atribuir-se em guia espiritual dos outros sem ter
experiência pessoal de Deus e do mundo invisível. O homem profano pouco mal faz
aos seus semelhantes, porque ninguém o acredita como guia nas veredas incertas
do universo espiritual; mas o profano que se atribui em iniciado é um perigo
para os outros profanos que o julgam por iluminado.
O
que leva um pseudo iluminado a se apresentar como iluminado é, quase sempre, a
ambição do prestígio, a cobiça do dinheiro ou o orgulho, roubando a chave do
conhecimento do reino de Deus.
Essa
chave consiste numa experiência interna, não condicionada por nenhuma
formalidade externa. O poder vem de dentro, a fraqueza vem de fora.
“A
letra mata - mas o espírito dá vida”.
O
ritual dá prestígio externo – o espiritual dá força interna.
Quem
exerce o ritual sem possuir o espiritual é falso profeta; roubou a chave do
conhecimento do reino de Deus. Iludido, ilude os outros. Cego, conduz outros
cegos, não é condutor e sim, sedutor.
Ignorância
do mundo espiritual é treva – experiência é luz.
Só
pode iluminar quem foi iluminado.
Só
pode dar aos homens quem recebeu de Deus.
Só
pode distribuir aos homens quem possui os tesouros da divindade.
É
necessário que o guia espiritual compreenda que a única possibilidade de guiar
os outros está em que ele se deixe guiar por Deus, e que nenhuma igreja ou
seita lhe pode dar essa experiência. Todas as igrejas e seitas são como outros
tantos marcos colocados à beira do caminho da vida, nas encruzilhadas duvidosas,
incertas; quem parasse aos pés desses marcos ou se contentasse com olhar na
direção indicada pelas flechas não chegaria jamais ao final da jornada.
A
alma do cristianismo não é algo que se possa ensinar ou aprender
intelectualmente, como num curso de teologia, ou de explicação de textos; é
algo que deve ser vivido e sentido, e até sofrido, em profundo silêncio e
fecunda solidão. Podem; na melhor das hipóteses; outros guiar-me até o limiar
do santuário, mas só eu é que posso transpor esse limiar e encontrar a Deus,
face a face.
O
dia mais glorioso para o verdadeiro mestre é o dia em que ele se torna
supérfluo e dispensável, o dia glorioso em que a alma por ele guiada já não
necessite de guia, por ter se tornado espiritualmente autônoma e independente,
para andar segura e firme nos caminhos de Deus.
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