sábado, 5 de outubro de 2013

“QUEM DE VÓS ME ACUSARÁ DE UM PECADO” – Interpretação das palavras de Jesus por Huberto Rohden

O pecado só é possível na penumbra da ego consciência, criada pelo intelecto. Não é possível nas trevas da inconsciência, que envolve o mundo dos sentidos materiais; nem é possível na luz intensa da pleni-consciência, que ilumina as alturas espirituais da razão, do Logos, que, em sua forma encarnada, se chama o Cristo.

Nem a inconsciência nem a pleni-consciência conhecem o pecado. O pecado é um fenômeno privativo da semiconsciência. Nem os sentidos nem a razão podem pecar; nem o corpo nem a alma pecam – somente a inteligência, esse lúcifer do nosso ego mental.

Ora, sendo o Cristo a Razão, o Logos, o Espirito divino – como poderia haver pecado na zona da impecabilidade?

Deus é transcendente a tudo e imanente em tudo.

Na sua essência, Deus é totalmente presente e imanente em todas as coisas – mas no plano da manifestação dessa sua essência há grandes diferenças. Deus, embora imanente em cada ser, não se manifesta do mesmo modo em todos os seres. A sua essência é invariável, mas a sua manifestação é variável.

Deus é inconsciente no mineral.
Deus é subconsciente no vegetal.
Deus é semiconsciente no animal.
Deus é ego consciente no intelectual.
Deus é pleno consciente no espiritual.
Deus é oniconsciente em si mesmo.

Só na zona penumbral da ego consciência é que é possível o pecado.
O pecado supõe consciência, porém uma consciência imperfeita.
O pecado consiste na ilusão da nossa separação de Deus, ilusão essa creada pelo intelecto.
Somos distintos de Deus, porque Deus é transcendente a cada uma de suas creaturas.
Mas não estamos separados de Deus, porque Deus está imanente em cada uma de suas creaturas.
Não somos idênticos a Deus, nem separados de Deus – mas somos distintos dele, porque somos iguais a Deus pela essência divina universal – e somos desiguais dele pela existência humana individual.

O dualista afirma a transcendência e nega a imanência.
O panteísta nega a transcendência e afirma a imanência.
O monoteísta, o monista ou universalista, afirma tanto a transcendência como a imanência, atingindo assim a verdade total.

O intelecto separatista nos faz pecar – a razão que une; redime-nos do pecado.
O intelecto é o precursor da razão – a razão integra em si o intelecto.
Só nos pode redimir o que é remido.
Só o impecável nos pode purificar do pecado.

Ninguém vai ao Pai a não ser pelo Cristo – o Cristo, porém, como diz o Quarto Evangelho, é o divino Logos, a Razão suprema, que se fez carne e habitou entre nós.

Habitou entre nós, historicamente, na pessoa de Jesus de Nazaré – e habita em cada um de nós, permanentemente, na forma daquela “luz que ilumina a todo o homem que vem a este mundo... e dá àqueles que a recebe o poder de se tornarem filhos de Deus”; porque esse mesmo Cristo do passado está presente em cada um de nós, “eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos”.


“Quem de vós me acusará de pecado?” – assim poderá dizer todo homem no qual o Cristo interno tenha despertado plenamente, redimido a ego consciência pecadora de seu velho egoísmo e penetrando-a toda do amor universal.

Nenhum comentário: