domingo, 16 de junho de 2013

Do carcere



Henry David Thoureau com um simples e despretensioso livrinho escrito em dois dias de reclusão, inspirou Ghandi na libertação da Índia.

29 de setembro de 1846

Caro Mahatma Gandhi ,

Espero que no século XX você seja bem sucedido em difundir minha proposta de revolução. Confio à um homem indiano tão honesto esta responsabilidade. Da prisão lhe escrevo sobre as injustiças cometidas por meu país, e sobre a revolução pacífica, a partir da desobediência civil.

Acredito que num governo no qual a maioria decide em todos os casos não pode estar baseado na justiça, mesmo na medida em que os homens a concebem, logo proponho um governo onde a consciência decida o certo e o errado. Não é desejável que se cultive um respeito à lei igual ao cultivado pelo que é correto. A lei nunca tornou os homens mais justos, e o indevido respeito à lei resulta na fila que se pode ver de um destacamento militar, marchando em admirável ordem, morro acima e morro baixo a caminho das guerras, contra suas vontades, e também contra o bom senso e a consciência de cada um, o que torna aquela marcha uma escalada em verdade muito árdua e causa de palpitação cardíaca.

Defronto-me, com este governo americano, ou com seu representante, o governo estadual, diretamente uma vez por ano, na pessoa de seu coletor de impostos; eis a única maneira pela qual uma pessoa na minha condição social se encontra necessariamente com ele e diz-me então de modo inconfundível: Reconhece-me; e então a mais simples, a mais eficaz, e, na atual conjuntura, mais indispensável maneira de tratá-lo e externar a pouca satisfação e o amor por ele é negá-lo.

Se este ano mil homens se recusassem a pagar seus impostos, isso não seria uma medida violenta ou sanguinária como seria pelo contrário pagá-los. Quando num país que se propôs a ser refúgio da liberdade, a sexta parte da população é constituída de escravos, e quando uma nação inteira é injustamente invadida e conquistada por um exército estrangeiro e submetida à lei marcial, penso que não é cedo demais para que os homens honestos se rebelem e façam a revolução. E o que torna esse dever ainda mais urgente. É o fato de que o país assim invadido não é os Estados Unidos , mas pelo contrario,é dele o exército invasor. Esta é na realidade a proposta de uma revolução pacífica, se tal é possível.Quando o súdito negar o dever de obediência e o funcionário renunciar a seu cargo, realizou-se uma revolução.

Nunca me neguei a pagar impostos sobre estradas, pois desejo ser tanto bom vizinho como desejo ser mau súdito; e no que diz respeito à manutenção de escolas, contribuo com a minha parte para a educação de meus compatriotas. Não é por nenhum item em particular no regulamento do imposto, que me recuso a pagá-lo. Desejo simplesmente recusar minha adesão ao estado, afastar-me e manter-me efetivamente a distância dele. De fato, declaro tranquilamente guerra ao estado, à minha moda.

Na minha visão nunca haverá um estado realmente livre e esclarecido até que este reconheça o indivíduo como um poder superior e independente, do qual deriva todo o seu próprio poder e autoridade, e o trate de acordo com isso.


De seu amigo do passado ,
Henry Thoreau

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Século XXI
No que mudamos hoje?

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