A
ideia do meu nasceu com a ideia do eu. Quando
esse eu morre, morrem necessariamente todas as ilusões
relacionadas com o meu. Quem tudo é, nada tem; a intensa
luminosidade do ser aniquila todas as trevas do ter. Quem
é de fato, discípulo do Cristo nada tem e quer ter, para si mesmo, embora possa
prestar-se para administrador de uma parte dos bens de Deus em benefício de
seus irmãos.
O
que eu considero meu só tem função enquanto ainda vive em mim
a noção do eu físico-mental; no momento em que o meu pequeno eu personal
se afogar nas profundezas do TU divino e no NÓS da humanidade, esse conceito de meu deixa
de ter razão de ser.
Por
isso, o homem que atingiu a plenitude do seu ser, pelo
despontar da consciência cósmica, perde toda a noção de posse e propriedade.
Nada adquire e nada perde. O fluxo e refluxo incerto de lucros e perdas
deixaram de existir para ele e com isso foi eliminada a fonte principal da
inquietação que atormenta os profanos. Nada possui que o mundo possa
tirar, e nada deseja possuir que o mundo lhe possa dar. Entretanto, se as
circunstâncias terrenas o nomearem administrador do patrimônio de Deus e da
Humanidade, esse homem administra com a máxima solicitude esse patrimônio
terrestre universal.
Pela
mesma razão, o homem que se despojou dos teres pela maturação
do ser não experimenta a menor dificuldade nem tristeza em
passar para outras mãos a gestação dos negócios temporários que lhe foi
confiada.
O
grande industrial norte-americano R.G. Le Torneau (1), fabricante de possantes
máquinas de terraplenagem, mandou colocar sobre a entrada de uma de suas
fábricas a seguinte afirmativa:
Não
digas: “Quanto do meu dinheiro eu dou a Deus”?
Dize
antes: “Quanto do dinheiro de Deus eu guardo para mim?”
Esse
homem descobriu que nós não temos dinheiro algum, mas que todas as coisas do
mundo são de Deus; entretanto, pode o administrador dos bens de Deus tirar para
si uma pequena “comissão”. Le Torneau, no princípio, tirava uma comissão de 90%
para si, dando 10% a Deus, para fins de altruísmo e religião; por fim inverteu
as quotas, dando 90% para Deus e guardando 10% para si, e mesmo assim, desses
10% ele não se considerava proprietário, senão apenas administrador, porque
também esse dinheiro pertencia a Deus e à humanidade.
“Quem
não renunciar a tudo que tem não pode ser meu discípulo”.
O
EU verdadeiro, divino nada sabe de possuir, porque o apogeu do SER provoca a
ruina do TER.
(1) Os contemporâneos de Le Torneau o qualificavam de “O homem de negócios
de Deus”.
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