sexta-feira, 8 de maio de 2009

Apressada eu?...


Faz já algum tempo que resolvi contar alguns episódios que sempre vêem à tona em conversas com amigos, sabe como é, conversar é uma atividade das mais frequentes e das mais agradáveis, acho que a primeira da lista quando perguntada – o que mais gosta de fazer?

Bem...

Eu tenho fama de apressada, será?

No início...

Mamãe e papai foram apressados e “me” fizeram antes do sim oficial de qualquer natureza, daí saíram correndo atrás do prejuízo, coisa que não entendo até hoje, pois essas convenções não me entram na “cachola” de jeito e modo algum, mas cada um é cada um... Na década de cinqüenta então, quem sou eu pra tecer comentários a respeito, enfim...
Papai era militar do exército ainda sem tempo suficiente na função para apresentar uma certidão de casamento, trataram então de procurar uma cidadezinha pacata num estado tranqüilo e distante, logo ali e lá se foram para Ouro Fino em Minas Gerais sacramentar tanto no civil como no religioso a união da qual eu já participei de corpo oculto presente (um bando de apressados), num casamento oficialmente oculto para o então exército brasileiro.
De volta ao Estado de São Paulo, dias vão, dias vem e pronto, seis meses na função. Papai leva a certidão à unidade onde trabalhava para informar sua união com mamãe, afinal, eu estava lá e ela precisava já de acompanhamento médico, ora, pois.
Tudo bem, disse seu superior, mas assina aqui uma advertência, certo?
Terceiro sargento, apressadinho, a sua promoção para segundo demora mais um pouco, até sumir no tempo a “lindinha” aqui...
Ia tudo bem quando, mamãe, já no oitavo mês resolve cair, ai, ai...
Lá fui eu “desesperada” dentro daquela barriga para o hospital, doida pra sair, afinal, a bolsa estourou e morrer era tudo o que eu não queria naquele momento...
Eu não quis nem saber; saí logo chutando todo mundo, fazendo “bunda-lê-lê” e dizendo:
-Vocês vão ter que me aturar!
O médico me colocou na incubadora e disse para a minha mãe, vai ficar em observação, é muito pequena (um quilo, oitocentos e cinqüenta gramas), e crianças prematuras de oito meses têm menor probabilidade de sobreviver ao nascimento. A essa altura eu já olhava pra ele pensando: Como assim, esse cara é louco?
Deixou minha mamãe arrasada.
Bem, como tudo parecia bem, batimentos cardíacos, respiração, etc.
Ele resolveu fazer um teste. Chamou mamãe e me colocou para a primeira mamada.
Aí eu delirei... Puxei aquele leite com toda a força do pulmãozinho que Deus me deu e pensei:
Agora é que vamos ver quem é fraquinha aqui...
O Dr Modesto Carvalhinho espantado exclamou:
-Dulcinéa. Leva essa esganada pra casa que essa aí não morre tão cedo!
Ponto pra mim!


Na infância...
Mas, como tudo tem um mas...
Essa irreverência toda não ficaria impune...
Como no parto pélvico a última parte que sai é a cabeça do neném, fazer bunda-lê-lê não é uma boa opção, bom mesmo é não ser apressado e nascer de forma convencional.
Adquiri um “torcicolo congênito” – tradução – atrofia do músculo esternocleidomastóideo (pescoço) e me trouxe um desvio de coluna, na época o tratamento era cirúrgico – hoje é com RPG (até nisso fui apressada), bem, aos sete anos fui para a sala de cirurgia, meia hora para “esticar o músculo” e uma e meia para tirar o dente de leite que resolveu cair quando o médico tirou a chupeta que usavam para não enrolar a língua por causa da anestesia geral, mas esse dente também não podia esperar não? Mas pra que a chupeta? Hoje não se usa, puro mito, será?
Tudo normal depois? Nem por sonho... Um mês sem sair da cama, com os pontos, trinta e um.
Depois, coloquei um colete branco lindo, da cabeça à cintura. Só ficava de fora o rosto, as orelhas, a “moleira” e os braços. Três meses, isso passa rápido pra quem tem pressa, pressa de brincar, pressa de estudar. Eu já tinha chorado em sessenta e quatro porque a escola me recusou a matrícula, mas qual o motivo?
Nasci em agosto e daí?
Então, primeira semana de aula e eu com o colete espacial; um vestido tamanho quatorze numa menina de sete, mas tudo bem, o importante foi subir as escadas do colégio feito louca!
Eu vou estudar! EU VOU ESTUDAR!
Daí vem aquela professora “nada a ver”, não gostei dela, esqueci o nome; chama minha mãe e diz:
-Olha, a sra não acha melhor ela não vir às aulas enquanto usar essa “coisa”, essa carapaça, as crianças estão comentando.
Aiiiiii!!!!!
Meu sangue ferveu!!!!
Nem deixei minha mãe responder.
-De jeito nenhum. Não vou faltar nenhum dia. Três meses, vou perder o ano, nem pensar. Venho e pronto. Eles que se acostumem ou que olhem para o outro lado.
Encerrei o assunto sem chance para qualquer argumentação contrária. Afinal a vida acadêmica era de quem?
O mais interessante foi a ajuda de minha amiga Marlene, amiga até hoje, que ficava comigo nos intervalos a explicar a razão do capacete espacial, meu nascimento incomum, a inclinação da coluna, a cirurgia, muito bom, excelente exercício, ela se tornou profissional de comunicação – fez jornalismo. Muito bom! Ela só tinha receio de adquirir o problema de tanto que repetia o modus operandi, rsrs.
Eu disse a ela que não havia risco, afinal, o exercício não permitia a atrofia.
Depois disso, tirei o gesso e tudo correu muito bem, até que no quarto ano do grupo escolar, um garoto chamado Luis César caiu em minha classe e começou a me chamar de Tartaruga Touche, ainda não entendo até hoje o por quê?
Mas dei umas boas “bolsadas” em suas costas nas nossas voltas para casa todos os dias na saída da escola. Levei fama de “batedora” até o colegial. Mas também considero isso uma injustiça!

Bem, já falei demais por agora. Em outra oportunidade, se me lembrar de mais coisas, conto para vocês.
Por hoje é só pessoal!

Nenhum comentário: